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Mostrando postagens de 2014

Acabou

Tenho tentado obstinadamente fugir de você. Durante muito tempo procurei saídas e alternativas para me manter afastado. E só de pensar na possibilidade de cruzar - por qualquer razão - contigo em qualquer esquina do meu peito, minha pele se arrepiava toda e meu estômago virava uma trouxinha de panos pronta para sair pela minha boca.  Você tá negando agora, mas eu sei muito bem que anda me perseguindo, sim. Não começa a balançar a cabeça e dizer que não porque fica feio mentir agora. Eu te vi lá. Enquanto eu lia aquele livro, naquela festa encostada no fumódromo. Até me espiando no banheiro! Que absurdo! E sem falar naquele restaurante que eu adoro. No parque, cinema, museu, sorveteria, você não mediu esforços hein? Às vezes eu achava que você ia surgir de alguma moita qualquer e me agarrar e me engolir sem mastigar, de tão perto que eu te sentia de mim. Mas eu apertava o passo e atrasava mais um pouco o nosso reencontro. É, reencontro. Pensa que eu não lembro? Você taí f

Compulsão Alimentar

Não adianta negar. Todo mundo sofre um pouco com isso. Pode ser que não a todo momento, mas uma hora acontece, é inevitável, não adianta tentar fugir ou fingir que não é com você. Cada um de nós amarga uma coisa que eu decidi chamar de compulsão alimentar.  É aquela necessidade de preencher alguns dos nossos sentimentos com alguma coisa. Qualquer coisa que possa fazer com que nós possamos nos sentir vivos, ou pelo menos, perto disso. Algumas pessoas preferem acreditar que esta, é uma forma pessimista de entender e reconhecer certas coisas que moram dentro da gente. Mas não tem como fugir, e eu posso te contar o porquê.   Não importa se o que você sente é algo triste ou feliz, nós sempre iremos procurar uma maneira de realizar a manutenção dessas sensações. Mandar uma mensagem de boa noite todos os dias e receber um emoticon amarelinho sorrindo como resposta pode ser suficiente para alimentar aquela se sensação de "tudo bem, pode dormir, amanhã é outro dia". E a

Armadura

Seja meu amigo. Preserve meu coração, me dê o direito de explorar a minha dor, a minha tristeza. Permita que meu corpo se acostume ao desconforto do sofrimento ininterrupto que abala as estruturas do meu âmago. Estou te pedindo, quase implorando para que deixe o sabor amargo durar mais um pouco. Não se sinta a pior pessoa do mundo ou alguém incapaz de ajudar ao próximo quando eu estou escolhendo abrir meu peito e a deixar entrar. É preciso muita coragem, uma dose inexplicável de amor próprio e uma força quase desumana que não-se-sabe-de-onde-vem para estar aqui. Escolher de bom grado subir em um palanque à praça pública gritando para que as pedras sejam jogadas. Não entenda mal. Não acho justo quando as pessoas se permitem sofrer gratuitamente, pelo simples fato de não terem capacidade e fé para enfrentar seus próprios problemas; definitivamente não estamos falando da mesma coisa. O que jogo nesta mesa hoje é uma dor permitida, uma tristeza autorizada. Necessária, ramifi

Sua mensagem foi visualizada às 13:06

Sabe qual é o seu problema? Não admitir que tem problemas. E sabe qual é o meu? Aceitar que é “normal” que você não queira admitir isso porque de alguma forma isso faz “parte de você” e eu tenho que “te amar” como você é. Encontre o erro. Em forma de desabafo eu quero te dizer que eu estou cansada da maneira acessória que você me trata, e eu não digo isso da boca para fora não. Foram precisos muitos dias, muitas negativas, muitos tropeços e frases como “engole esse choro” para perceber que talvez eu nem te ame tanto assim. Ou ame, mas não gosto de amar não. Sabe o motivo? Você é péssimo. Você tem sido primorosamente péssimo. Eu acho tão feio quando as pessoas fingem se importar com as outras, mas tão feio que se você soubesse apenas 1/8 disso, jamais pensaria duas vezes antes de tentar fazer isso comigo. Eu não acho que deva ser exclusividade sua, ou da sua personalidade essa mania de achar que todos são como você. Que querem uma barreira segura entre o “você não está bem

18 dias de Junho

Um dia, sete horas, vinte e três minutos e quarenta e dois segundos. É segunda feira. Aquelas típicas, com gosto amargo e céu cinzento. Cenário comum em uma cidade maluca como São Paulo. Eu preciso trabalhar, mas ainda falta muito tempo para sair de casa. Então eu sento na cama e começo a pensar aceleradamente em coisas que possam tomar o meu tempo até lá, já que sei que se deitar agora não me trará o sono de novo e só vai tornar uma máquina de imagens suas em movimento. Então acho que é uma boa ideia começar uma faxina em meu quarto. Pés no chão gelado, luzes acesas, janelas abertas e a playlist de músicas de balada no último volume. Cinco dias, doze horas, trinta e seis minutos e dois segundos. Todos estão animados dentro do ônibus. Seus semblantes denunciam que hoje provavelmente é o melhor dia da semana para todo mundo: hoje é sexta feira. Meu estômago está doendo. Sinto como se meu corpo fosse uma folha de papel dentro daquela máquina de chacoalhar. Tento me manter em p

Ela

Tem pouco tempo que eu comecei a fazer as coisas sozinho. Coisas bem bobas que na verdade eu nem lembrava mais como funcionavam depois que você apareceu por aqui. Uma delas era ir ao cinema. Essa semana por exemplo, eu tava ali na Avenida Paulista e deu vontade. Entrei, comprei um ingresso e esperei uns 20 minutos para a sessão começar. Antes de entrar na sala, fui ao banheiro e também tomei um café. Tava frio pra cacete. Não tinha muita gente por lá, na verdade, além de mim, esperando para a sala abrir tinham mais duas idosas, uma mulher de óculos concentrada na leitura de um livro que eu não lembro o nome, e um grupo de adolescentes que provavelmente haviam acabado de sair da escola ou da faculdade e iam entrar só para dar uns beijos no escuro mesmo. Achei engraçado. A sala abriu. O atendente verificou minha carteirinha de estudante e carimbou o ingresso. Eu entrei, sentei no meu lugar e esfreguei as mãos, tava realmente muito frio naquele dia. Naquele lugar. Não demorou mui

Doente de você

A falta que eu sinto de você é tão contundente quanto uma faca que corta a pele, que perfura a carne e faz sangrar o corpo. É como estar tão perto e tão longe do sol. Como se os raios jamais fossem suficientemente quentes para entregar ao corpo a sensação de bem estar e de aconchego que eu preciso.  No momento em que você está ao meu lado é também o momento em que eu me sinto mais sozinha, mais perdida e confusa. A sua presença me faz ter surtos e delírios passageiros. Enjoos, desejos, pequenos surtos, grandes dores e alguns espasmos que eu, com alguma prática, até que aprendi a disfarçar e a controlar muito bem. Mas sei lá, se um dia quiser ter certeza, só repara. Repara na desconexão do meu sorriso com meus olhos; na minha voz gritando no silêncio que eu não estou bem e que a qualquer minuto, qualquer dia, você vai acabar me matando com esse excesso de você.  Do seu lado eu me sinto menor, um pequeno grão de areia, vulnerável, insosso, incapaz, incolor, menosprezado e

Prelúdio de Morte

Querido você ,  Eu queria poder afirmar que esta é, definitivamente, a última vez que lhe escrevo. Mas, como já deve imaginar, eu me conheço bem demais para ter a consciência da minha "instabilidade", então acho que devo começar dizendo que, eu ESPERO que essa seja a última vez que eu lhe escrevo. E por favor, não se sinta chateado, ou magoado por isso. Eu até que, querendo ou não, gosto de lhe escrever. Sinta-se chateado e magoado por todo o resto. E eu espero mesmo que sinta-se, porque não será um décimo de como eu realmente me sinto agora.  Querido você, isto, é uma carta de adeus. Uma clichê, comum e boba, carta de despedida. E eu vou poupar o seu tempo pensando e adiantar que eu não irei embora literalmente, embora na real eu quisesse ter essa coragem. Na verdade, eu vou embora em todos os outros sentidos.  Olha, hoje de manhã eu acordei e te chamei pelos quatro cantos da casa. Você não estava lá. Ou só não quis me responder, como você sempre faz, não

Henrique Pt. III

E eu até acho que o fato de não amar Henrique foi o que me permitiu estar com ele hoje. Sim, porque eu tenho repulsa desse sentimento nojento chamado "amor". Fora o meu pequeno trauma aos meus nove anos, já deve ser óbvio que minhas experiências "amorosas" não foram lá o que a gente pode chamar de conto de fadas. Na verdade eu acho que passaram bem longe disso mesmo. Mas não importa, o que quero que saibam é que este rapaz que aqui estava há menos de dez minutos é a minha cobaia, e não, eu não sinto nenhum tipo de culpa, remorso ou mesmo peso na consciência por isto.  Vocês já me acham a pior pessoa do mundo?  Bem, deixa eu falar um pouco sobre o Pedro Henrique. Sim, é o nome dele. O Rick é fotógrafo. Talvez outro motivo para eu ter escolhido ele. Trabalha com fotografia artística, e eu o conheci um dia desses enquanto não pensava em nada caminhando por um parque no centro da cidade. Quase como uma cena de filme. Ele surgiu de trás de uma árvore c