Não adianta negar. Todo
mundo sofre um pouco com isso. Pode ser que não a todo momento, mas uma hora
acontece, é inevitável, não adianta tentar fugir ou fingir que não é com você.
Cada um de nós amarga uma coisa que eu decidi chamar de compulsão
alimentar.
É aquela necessidade de
preencher alguns dos nossos sentimentos com alguma coisa. Qualquer coisa que
possa fazer com que nós possamos nos sentir vivos, ou pelo menos, perto disso.
Algumas pessoas preferem acreditar que esta, é uma forma pessimista de entender
e reconhecer certas coisas que moram dentro da gente. Mas não tem como fugir, e
eu posso te contar o porquê.
Não importa se o que você
sente é algo triste ou feliz, nós sempre iremos procurar uma maneira de
realizar a manutenção dessas sensações. Mandar uma mensagem de boa noite todos
os dias e receber um emoticon amarelinho sorrindo como resposta pode ser
suficiente para alimentar aquela se sensação de "tudo bem, pode dormir,
amanhã é outro dia". E ao mesmo tempo, quando a dor é presencial, basta
uma visita na página do facebook dela ou dele. Uma foto, um perfume, até mesmo
alguma cena cotidiana na rua consegue nutrir aquela sensação devastadora que
vai corroendo tudo dentro do peito como um rastro de ácido.
Você pode até dizer que
não concordar comigo agora, mas, nós no fundo gostamos um pouco de saber que
não somos nulos. O que eu quero dizer com isso? Quero dizer que não importa o
que você sente, com o tanto que sinta. Não importa se é um sorriso ou se são
lágrimas, o que importa é que lá dentro, seu sangue continua correndo, rápido
ou devagar, você querendo ou não e isso, na maior parte das vezes é o
suficiente para não desistir.
Eu tô falando daquela
vontade absurda de ocupar cada espaço vazio dentro de algum lugar do nosso
corpo ou alma que não pode, de jeito nenhum, ficar vago, porque o vazio dá
medo. É por isso que quem é feliz por muito tempo não sabe o que fazer quando
isso simplesmente "acaba", cê fica aí numa busca tão intensa, numa
compulsão tão forte que vai comendo, engolindo, enfiando tudo que acha pela
frente que pode prolongar essa sensação boa que nem se dá conta que as vezes,
nem precisava mais e quando acaba o amor ou a felicidade, vira aquele
apartamento frio, sujo e bagunçado, sem móveis, sem moradores, só você, o vento
e a sujeira. E é por isso também que quando a dor vai embora, dá medo de sair
comprando os móveis novamente, dá uma agonia de habitar, de conviver de novo. A
gente custa a ceder, a dar meia volta e comprar aquele quadro pin up bonitinho
que super vai combinar com a sala porque o clean parece tão mais seguro para
quem já teve que reformar tudo.
Então, não tem jeito, eu
sei que não é fácil de admitir, mas é melhor se você o fizer. Eu acredito que
a consciência é uma das formas mais respeitosas de felicidade ou
tristeza. Quando nós entendemos como chegamos ali e como nos mantemos,
tudo parece mais duro, mais rígido, porém, muito mais real e menos doloroso. Eu
não acho que quem sofre ou quem é feliz tem que ter vergonha de admitir que usa
coisas ou momentos bobos para manter seus sentimentos vivos, nós somos assim.
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