Tenho tentado obstinadamente fugir de você. Durante muito tempo procurei saídas e alternativas para me manter afastado. E só de pensar na possibilidade de cruzar - por qualquer razão - contigo em qualquer esquina do meu peito, minha pele se arrepiava toda e meu estômago virava uma trouxinha de panos pronta para sair pela minha boca.
Você tá negando agora, mas eu sei muito bem que anda me perseguindo, sim. Não começa a balançar a cabeça e dizer que não porque fica feio mentir agora. Eu te vi lá. Enquanto eu lia aquele livro, naquela festa encostada no fumódromo. Até me espiando no banheiro! Que absurdo! E sem falar naquele restaurante que eu adoro. No parque, cinema, museu, sorveteria, você não mediu esforços hein?
Às vezes eu achava que você ia surgir de alguma moita qualquer e me agarrar e me engolir sem mastigar, de tão perto que eu te sentia de mim. Mas eu apertava o passo e atrasava mais um pouco o nosso reencontro. É, reencontro. Pensa que eu não lembro? Você taí fazendo essa cara de sonsa mas sabe muito bem que eu nunca te esqueci. E tinha como?! Ei! Sem esse sorriso, por favor.
Nosso combinado foi claro desde o começo: você iria embora e ia controlar essa obsessão por mim, para o nosso bem, lembra? Mas não adiantou. No começo até achei que tinha dado certo, deu uma sumida, se afastou, mas não teve jeito. Um dia eu estava passando por aquela rua e esbarrei com ele. "PUTS! Fudeu", eu pensei quando olhei por cima do ombro dele e vi você. Tímida. Inocente. Quieta. Tão ingênua que cheguei a acreditar que seria inofensiva, mas não...é claro que não. Naquele momento eu acho que eu tinha a chance de escolher. Mas eu não pensei muito bem. E acho que no fundo, mesmo que tivesse pensado, teria escolhido ele. Porque sempre foi ele. Desde o começo, com ou sem você. Tinha que ser ele e eu não ia poder fugir daquilo. Eu escolhi o amor.
Tenho tentado desde então, me manter o mais distante possível. Me entregando aos mais loucos rituais para ver se alguma coisa dá certo. Esperando um amém descer dos céus e impedir qualquer aproximação. Mas foi inevitável. Você veio na surbina, sem fazer muito barulho e agora que tudo acabou, que você conseguiu mais uma vez levar de novo a confiança, a alegria, a dedicação, a força, o tempo e o amor, somos eu e você. One more time.
A dor e o coração. Uma outra vez sozinho com o sofrimento. Agudo. Pulsante. Vivo. Destrutivo. Latente e gritante. Jogados dentro de uma sala, sentados numa mesa, frente a frente, sendo obrigados a se encarar, a se observar, sentir e respirar o mesmo ar como se uma guerra fria tivesse sido declarada. Esperando quem desta vez deve ser vivo, ou menos dilascerado.
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