Ela sentia como se seu corpo estivesse sendo esvaziado. Já fazia algum tempo que estava assim e, embora não gostasse daquilo, insistiu em ficar. Estavam sentados no sofá da casa dele, tinham de terminar um trabalho. Ele redigia, enquanto ela devorava textos e mais textos e de hora em hora lia o que já havia escrito ou revesava e tomava o posto de redatora. Não havia absolutamente nada de estranho naquela cena. Pelo menos não aos nossos olhos, contudo, dentro dela, uma verdadeira "agonia boa" transitava desesperada. Aquela aproximação era algo incomum em sua mente, suas mãos suavam e ao mesmo tempo que lutava para se manter concentrada na responsabilidade que tinham pendente deixava que todo seu corpo se deixasse levar pelo cheiro do perfume que ele pouco usava. A ponta dos seus dedos as vezes passavam pelos fios daquele cabelo, como se tirasse algum fiapo, mas na verdade era só o desejo de tocá-los mesmo. Foi num desses momentos em que ela, distraída, olhava o rosto do
Uso as palavras para compor meus silêncios.