Um
dia, sete horas, vinte e três minutos e quarenta e dois segundos. É segunda
feira. Aquelas típicas, com gosto amargo e céu cinzento. Cenário comum em uma
cidade maluca como São Paulo. Eu preciso trabalhar, mas ainda falta muito tempo
para sair de casa. Então eu sento na cama e começo a pensar aceleradamente em
coisas que possam tomar o meu tempo até lá, já que sei que se deitar agora não
me trará o sono de novo e só vai tornar uma máquina de imagens suas em
movimento. Então acho que é uma boa ideia começar uma faxina em meu quarto. Pés
no chão gelado, luzes acesas, janelas abertas e a playlist de músicas de balada
no último volume.
Cinco
dias, doze horas, trinta e seis minutos e dois segundos. Todos estão animados
dentro do ônibus. Seus semblantes denunciam que hoje provavelmente é o melhor
dia da semana para todo mundo: hoje é sexta feira. Meu estômago está doendo.
Sinto como se meu corpo fosse uma folha de papel dentro daquela máquina de chacoalhar.
Tento me manter em pé sem esbarrar em ninguém mas parece uma tarefa impossível.
Estou com os meus fiéis fones de ouvido criando uma barreira entre eu e o resto
do mundo. Mas não é uma boa solução quando o objetivo é me isolar de você. Que
dor no estômago, inferno.
Onze
dias, quinze horas, cinquenta e oito minutos e vinte e quatro segundos. O
trabalho parece o melhor lugar para estar. Sinto que ao menos durante algumas
horas do dia posso tirar os fones sem medo de me encontrar com uma imagem sua
na próxima esquina. Posso sorrir sem precisar lembrar que não tenho motivos
para isso. Tenho permissão para conversar com as outras pessoas sem o
compromisso de perceber que não nos falaremos durante à noite. E finalmente,
lembro que estou há várias horas sem comer e acabo cedendo à qualquer bobagem
que encontro pela frente. No fundo eu sei que é só por isso mesmo que eu ainda
não desmaiei fraco pelas ruas.
Quatorze
dias, vinte horas, seis minutos, e trinta e sete segundos. Modifiquei a
playlist do celular para uma que dei o nome de “The funeral”. Não tenho medo e
nem vergonha de chorar andando sozinho pela calçada. Eu percebo que as pessoas
se sentem diretamente atingidas. E mesmo não demonstrando, acho engraçado.
Ninguém gosta de ver outra pessoa chorar porque não sabe como lidar com a dor e
o sofrimento alheios. Então, ao mesmo tempo em que elas me olham, elas desviam
o olhar tentando de alguma forma, de alguma maneira se proteger da minha angustia.
Porque este é um tipo de sentimento com aspecto contagioso.
Dezoito
dias, uma hora, cinquenta minutos e cinco segundos. Não consigo dormir. Estou
praticamente fritando na cama como se fosse um pedaço de guioza. Meu corpo está
quente e dolorido. No peito uma sensação estranha de aperto e uma falta de ar
que com certeza é do resfriado que acabou me pegando essa semana. Acho que
estou com febre. Abro a bolsa, procurando um remédio relaxante muscular ou
qualquer coisa do tipo. Sento na cama esperando que em algumas horas algo faça
efeito. Neste tempo, você aparece, me sufoca, me afoga e me mata de tanta
saudade, de tanta dor. Choro como eu nunca chorei em toda a minha vida e
percebo que já é hora de acabar.
Um
dia, oito horas, zero minutos e zero segundos. Hoje é segunda-feira, faz 30º lá
fora eu estou escolhendo viver sem você.
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