Ele está se movimentando na cama. Enrolado nos meus lençóis. Rapidamente minimizo a janela do word. Não que eu tenha algum problema em deixá-lo ler a história. Até porque, tudo que já escrevi até aqui é a mais pura verdade e de alguma forma, sei que ele, no fundo, também sabe disso. Abro um sorriso amarelo quando ele me fita. Estou sentada na cadeira com um pé apoiado no acento e o queixo sob meu joelho.
— Bom dia. — digo
— Bom dia Babi. — responde ele sorrindo antes de procurar pelo relógio no pulso e perceber que é hora de ir, embora seja sábado.
Confesso que eu mesma não percebi o dia amanhecer. Acho que já passava das 7 da manhã. Mesmo sendo cedo, sei que Henrique tinha milhares de coisas para resolver no dia e é claro que, eu não me importava. E então fiquei ali, assistindo ele se levantar e se vestir enquanto comentava o quão boa havia sido a nossa noite o quanto aguardava pela próxima vez. Fico enjoada novamente.
— Eu ligo para você mais tarde ok? — diz ele tomando um gole do café já frio. — Argh! Babi!
— Desculpa! Estava pesquisando umas coisas para a faculdade e esqueci de beber. — respondo afastando a xícara de perto dos dedos dele.
Ele se inclina e me dá um beijo demorado. Não faço a menor questão de sair da minha posição. Na verdade, o maior movimento que me dou ao luxo de realizar é levar uma das minhas mãos até sua nuca e afagar de leve seu cabelo. A sensação continua sendo a mesma que a da primeira vez. Ou seja, quase nula. Mas devo dizer que uma pequena parte de mim resiste e tenta a todo o instante me mostrar algo que eu já deveria ter percebido. Tenta me fazer entender que, se eu quiser, ele estará lá, e que isso me faz bem, porque ele me quer bem. Trato de afastar esses pensamentos assim que ele me dá um último selinho. E sorrio fazendo-me parecer chorosa pela despedida. Henrique atravessa a porta e a fecha em seguida.
Neste momento estou apoiando os cotovelos sobre a mesa e esfregando minhas mãos em meu rosto. Quem é você? Penso. Abro novamente a janela do word e antes de digitar uma palavra sequer, puxo uma gaveta embutida na mesa e pego uma cartela de cigarros. Arrasto a xícara de café novamente para perto e acendo o primeiro cigarro. O deixo queimando junto aos lábios e volto a escrever.
Eu acho que sou uma pessoa difícil.
E também acho que seria injusto continuar essa história sem falar um pouco sobre mim e sobre quem eu sou, ou pelo menos quem eu suponho que sou. Ah e não que tenha muito a ser dito, não. Mas bem, devo começar dizendo que não me lembro de ter tido muitos relacionamentos. E quando digo isso, não falo de "namorados" em si, mas de envolvimentos com outras pessoas. Envolvimentos reais que falem de sentimentos e essas coisas. Se precisasse listar, talvez pudesse contá-los nos dedos de apenas uma mão. Isso é realmente um pouco frustrante as vezes, mas na maior parte do tempo lido bem com a situação, e em momentos melhores, nem me lembro pra falar a verdade.
O meu primeiro amor surgiu quando eu tinha 9 anos. Um pouco tarde eu acho, ou não. Tem gente que morre sem saber se amou alguém ou não. Mas enfim, eu tinha 9 anos e ele tinha 10. Estudávamos na mesma sala e bem, é claro, éramos, ou nos tornamos, melhores amigos. Eu achei que, conseguindo sua confiança e o seu carinho, depois seria mais fácil chegar no momento em que lhe daria um beijo escondido em um canto escuro da escola. Obviamente isso não aconteceu. Amigos demais. Eu esperei um dia todos irem embora até que, na sala, só ficássemos eu e ele. E então eu lhe contei tudo. Ele ficou constrangido, segurou minha mão e disse olhando em meus olhos: "Babi, olha... Você realmente não faz o meu tipo. Mas tenho certeza que faz o tipo de alguém." e sorriu. Eu nunca mais me declarei para ninguém.
Os outros amores foram quase como esse, mais o que realmente precisa ser dito é que nenhum deles terminou bem, afinal terminaram, não é? E eu tenho essa coisa do "término" muito fixa na minha mente. Eu sinto que nada que é bom e termina, pode ser bom de verdade. Eu tinha uma explicação melhor para isto mas, confesso que estou com preguiça agora. O importante é lembrar que sempre foi assim. Eu nunca apresentei ninguém aos meus pais, nunca houve uma foto minha e do meu namorado/namorada sob a minha estante e eu nunca tive para quem dar presentes no dia dos namorados, essa é a verdade. E eu não sou uma pessoa pior ou melhor por isto, que fique bem claro.
Então, diante de toda essa situação, durante a maior parte da minha adolescência e em alguns dias atuais, eu me questiono se há algo em mim diferente, diferente no mal sentido. Quer dizer: porque as coisas simplesmente não acontecem, ou acontecem assim?. Tá na cara que nunca achei uma resposta. Mas achei hipóteses.
Eu tenho muitos amigos. Colegas, conhecidos. E não tenho nenhum problema em partilhar minha vida particular com eles. Nunca tive eu acho. Sou o que as pessoas chamam de "livro aberto" e ainda não vivi o suficiente para ter certeza de que isso é bom ou ruim mas, atualmente, não importa. E então, como sou uma pessoa transparente, é fácil para quem está ao redor sentir-se livre para opinar. Deve estar claro que eu questionei essas pessoas sobre o que elas achavam de mim, ou que elas achavam que eu deveria fazer. E eu tenho uma preguiça ainda maior em dizer todas as respostas, mas vou resumir todas elas em pouco mais de uma linha: "Você deve se dar uma chance, dar uma chance às pessoas. Precisa deixar que elas enxerguem quem está aí dentro, precisa baixar a guarda".
Ai meu Deus, eu estou invisível.
Fim. Esta sou eu. E é por isto que estou com Henrique. Sim, eu lhe dei uma chance, e me dei uma chance, mas eu preciso lembrar, que ele, é um amor que eu inventei. Ele é a minha ficção. Ele é a mistura da minha expectativa e da minha realidade. Eu amo não estar sozinha, mas eu não amo o Henrique.
Continua...
Eu acho que sou uma pessoa difícil.
E também acho que seria injusto continuar essa história sem falar um pouco sobre mim e sobre quem eu sou, ou pelo menos quem eu suponho que sou. Ah e não que tenha muito a ser dito, não. Mas bem, devo começar dizendo que não me lembro de ter tido muitos relacionamentos. E quando digo isso, não falo de "namorados" em si, mas de envolvimentos com outras pessoas. Envolvimentos reais que falem de sentimentos e essas coisas. Se precisasse listar, talvez pudesse contá-los nos dedos de apenas uma mão. Isso é realmente um pouco frustrante as vezes, mas na maior parte do tempo lido bem com a situação, e em momentos melhores, nem me lembro pra falar a verdade.
O meu primeiro amor surgiu quando eu tinha 9 anos. Um pouco tarde eu acho, ou não. Tem gente que morre sem saber se amou alguém ou não. Mas enfim, eu tinha 9 anos e ele tinha 10. Estudávamos na mesma sala e bem, é claro, éramos, ou nos tornamos, melhores amigos. Eu achei que, conseguindo sua confiança e o seu carinho, depois seria mais fácil chegar no momento em que lhe daria um beijo escondido em um canto escuro da escola. Obviamente isso não aconteceu. Amigos demais. Eu esperei um dia todos irem embora até que, na sala, só ficássemos eu e ele. E então eu lhe contei tudo. Ele ficou constrangido, segurou minha mão e disse olhando em meus olhos: "Babi, olha... Você realmente não faz o meu tipo. Mas tenho certeza que faz o tipo de alguém." e sorriu. Eu nunca mais me declarei para ninguém.
Os outros amores foram quase como esse, mais o que realmente precisa ser dito é que nenhum deles terminou bem, afinal terminaram, não é? E eu tenho essa coisa do "término" muito fixa na minha mente. Eu sinto que nada que é bom e termina, pode ser bom de verdade. Eu tinha uma explicação melhor para isto mas, confesso que estou com preguiça agora. O importante é lembrar que sempre foi assim. Eu nunca apresentei ninguém aos meus pais, nunca houve uma foto minha e do meu namorado/namorada sob a minha estante e eu nunca tive para quem dar presentes no dia dos namorados, essa é a verdade. E eu não sou uma pessoa pior ou melhor por isto, que fique bem claro.
Então, diante de toda essa situação, durante a maior parte da minha adolescência e em alguns dias atuais, eu me questiono se há algo em mim diferente, diferente no mal sentido. Quer dizer: porque as coisas simplesmente não acontecem, ou acontecem assim?. Tá na cara que nunca achei uma resposta. Mas achei hipóteses.
Eu tenho muitos amigos. Colegas, conhecidos. E não tenho nenhum problema em partilhar minha vida particular com eles. Nunca tive eu acho. Sou o que as pessoas chamam de "livro aberto" e ainda não vivi o suficiente para ter certeza de que isso é bom ou ruim mas, atualmente, não importa. E então, como sou uma pessoa transparente, é fácil para quem está ao redor sentir-se livre para opinar. Deve estar claro que eu questionei essas pessoas sobre o que elas achavam de mim, ou que elas achavam que eu deveria fazer. E eu tenho uma preguiça ainda maior em dizer todas as respostas, mas vou resumir todas elas em pouco mais de uma linha: "Você deve se dar uma chance, dar uma chance às pessoas. Precisa deixar que elas enxerguem quem está aí dentro, precisa baixar a guarda".
Ai meu Deus, eu estou invisível.
Fim. Esta sou eu. E é por isto que estou com Henrique. Sim, eu lhe dei uma chance, e me dei uma chance, mas eu preciso lembrar, que ele, é um amor que eu inventei. Ele é a minha ficção. Ele é a mistura da minha expectativa e da minha realidade. Eu amo não estar sozinha, mas eu não amo o Henrique.
Continua...
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