Pular para o conteúdo principal

Eco. Eco, frio.



"Ei, boa noite. Eu não queria assustar não. É que tava olhando de longe o seu amor. Tava olhando como, mesmo confusa você parece tão completa, tão suficiente. Eu não sei o nome dele, mas eu sei que é essa a palavra o motivo do sorriso lindo que estava enfeitando seus lábios antes de eu chegar. Não se assusta não. Eu tava achando bonito observar como você olhava pra ele e como ele olhava pra você. Eu só criei mesmo coragem pra atravessar a rua e falar contigo porque achei que não era direito meu negar de você as coisas que eu refleti sobre tudo que vi. 

Muito prazer. Eu sou um coração partido, em pequenos pedaços espalhados já não sei por onde. O vão dentro de mim é tão profundo que se você gritar daqui da porta vai achar que existem milhares de vocês aqui dentro. Um eco, eco, eco... um vazio, vazio, frio. É tão gelado por aqui, que eu acho que já me acostumei. Sabe quando dói tanto ou incomoda tanto que até adormece, pois é. Tô num sono profundo a tanto tempo que eu nem sei mais se dói de verdade. 

Mas eu não vou te incomodar mais não. Só queria falar que tava tão bonito olhar seu amor de longe que por uns minutos eu achei que fazia parte da sua história. Tão intensa e imprevisível que eu nem ligaria se fossemos um livro e eu apenas um personagem descartável, já ia ficar satisfeita só de dizer: oi, eu não tenho uma história, mas faço parte de uma, e isto, por hora... deveria bastar. 

Moça, dá licença viu? E desculpa de novo. Ah, e cuida dele. E deixa ele cuidar de você. A coisa mais triste do mundo, é ter tanto espaço para dar calor e não ter ninguém para aquecer. Boa noite viu?"


-

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ansiedade, pela última vez

I got a fear, oh in my blood She was carried up into the clouds, high above If you’re there I bleed the same If you’re scared I’m on my way If you runaway, come back home Just come home Não, você nunca me viu falando sobre ansiedade publicamente, nem mesmo escrevendo sobre ela (ou só não estava atento o suficiente). Apesar disso, esta será definitivamente a última vez.  Você pode não ter percebido; passou pela sua mente mas, ao mesmo tempo, foi tão rápido que nem merecia atenção. Mas eu tenho certeza que se perguntou por qual motivo não aceitei o convite para tomar uma cerveja. E estranhou quando, não mais do que do nada, o meu humor mudou da água para o vinho e o clima simplesmente se transformou em algo indigesto. Eu também percebi o seu incômodo quando perguntei várias vezes coisas que, para você, talvez fossem óbvias e em alguns momentos até chatas. Hoje, na verdade, eu deveria estar fazendo outra coisa. Algo que precisa da minha atenção, algo que preciso finalizar. M...

Mas tem que ser assim

Não sei o que dizer. Na verdade eu não deveria saber o que dizer, afinal. Eu deveria saber. Deveria ter pensando e ter planejado isto. Cada maldito detalhe, cada mínima possibilidade que pudesse me romper, que pudesse se infiltrar. Poderia ter sido previsto. A única coisa com a qual não contava era com você. Daqui a exatamente oito dias a sua voz vai entrar em minha mente, penetrando cada ferida, cada pequena parte de mim que você fez questão de rasgar. Os meus planos irão todos fundir-se com a sua verdade e em pouco tempo eu estarei dominada por algo que não sei como e não sei de onde vem e me arrebata para longe, para três anos e onze meses atrás, quando tudo era azul e o sol brilhava dentro de mim espontaneamente. O que me pergunto na verdade é: eu deveria saber que você me traria tanta dor? Te pergunto e você diz que só sei te culpar. Mas depois de tanto tempo consegui refletir mais tranquilamente sobre. A culpa é algo que não existe. Diante de tantas razões que procurei enco...

Se cuida, tá?

"Então tá bom, boa noite. Se cuida, tá?". Eu gosto das palavras por muitos motivos, alguns que provavelmente só fazem sentido para mim, e tudo bem. Um deles é o fato de caber tanta coisa dentro de uma única palavra. Já parou para pensar? E dentro de uma frase? Meu Deus! Cabe um universo inteiro e outro e outro, infinitas possibilidades. A gente é meio acomodado e acaba se contentando com o mais óbvio, o mais fácil, o que já está ali mastigado, é só engolir. Eu não. Tem uns dias que o mundo está quieto. Os sons já não são mais os mesmos, nem mesmo os assobios do vento, ou o cair das águas batendo nas pedras. A gente nunca teve que dizer tanto "se cuida, tá"? E ali dentro cabe a preocupação, cabe os medos, a vontade de estar perto, de fazer mais do que consegue fazer quando se está do outro lado da tela, porta, parede, mundo. Tem também muita esperança, uma certeza sem origem conhecida de que vai ficar tudo bem. E vai mesmo, mas a gente fala para tornar verdade. Nin...