Pular para o conteúdo principal

Just close your eyes and feel

Tumblr_lt43rdetka1qm6gfno1_500_large



Eu fechei os olhos e lá estava você, arrancando o meu libido com um simples passar de pés. Definitivamente, você não fazia o meu tipo mas era discutível o que estava acontecendo comigo naquela semana. Eu poderia basicamente ter chegado em você e ter dito: "Ei, posso fazer isto melhor". Sim eu poderia, se. Se você não fosse todas as pessoas. 

Cabelos, lábios, cheiros tudo me deixava em transe. Tentava controlar todos os sinais que meu corpo imitia compulsivamente mas era inevitável desejar minhas unhas descompassando a sua respiração. Então eu levantei e sem saber exatamente quem guiava meus passos, me afastei do perfume da sua pele. A ponta dos dedos se confundiam dentro do bolso do meu jeans a procura de um cigarro e em seguida do isqueiro. Com os pensamentos a flor da pele me encostei numa mureta que fazia um pouco de sombra, livrando-me daquele sol quente que insistia em piorar a minha situação. 

Tive a impressão de ter dado duas tragadas naquele pedaço de papel e toxinas e no segundo seguinte lá estava você com dois copos de St. Remy nas mãos me oferecendo um pouco menos de sanidade. Meus olhos se recusaram a encontrar os seus mas os lábios amigavéis sorriram e você retribuiu. Escoramos naquele muro e o copo não durou mais de três minutos, em compensação a sua voz dentro da minha mente parecia que não ia sair nunca mais. Durante toda conversa eu me mexia para lá e para cá como se procurasse um jeito mais confortável de sentar, mas na verdade estava simplesmente tirando minha atenção do tesão que você conseguia me provocar descaradamente. Será que você sabia disso? Pensava. Claro que sabia. Concluía.

Seu sorriso conseguiu rasgar toda e qualquer noção de perigo que ainda restava na parte sóbria de mim. Lhe estendi a mão e você repetiu o favor, levantamos e ficamos ali rindo feito idiotas de coisas mais idiotas ainda. Encostei nos tijolos para que a tontura que tomava conta do sangue não me derrubasse e talvez você tenha entendido errado, do jeito certo. O fato era que uma das suas mãos estava na altura do meu rosto e seus dedos tocavam o cimento que cobria os tijolos cinzas, enquanto a outra subia pela minha nuca por dentro do meu cabelo. Seu corpo estava chegando perto, perto demais para me deixar de olhos abertos. Ia dizer algo mas você foi mais ágil: "De repente me deu uma vontade de te beijar...", mordi seu lábio antes de suas palavras se concluírem e senti você pressionar minha pele, percebi sua respiração diferente e coloquei as duas mãos em sua cintura te trazendo mais perto. Levantei sua camiseta e apertei sua pele com a unhas com tanta vontade que você ofegou na minha boca e eu suspirei satisfazendo-me. Seu beijo demorou e me tirou do chão com a facilidade que uma pluma ganha voo.

Podia sem nenhum problema ficar ali o tempo que julgasse preciso até porque precisaria de vários minutos para matar aquela vontade de você. Os pensamentos se embaralhavam dentro da cabeça e se perdiam junto do efeito do álcool que predominava em meu sangue. Seus lábios agora em meu pescoço me permitiam uma respiração mais calma e controlada; as pernas tremiam, as vontades diziam, vem, vem... tremendo. Você parou e consegui te ouvir rindo baixo, você sussurou: "Olha pra mim..." e tive razão, tive medo. Eu tive medo por uma razão. Abri os olhos... 

Todos estavam dançando naquela pequena saleta escura. O chão tinha o desenho de uma tábua de xadrez. No teto bolas que mudavam de cor conforme aquelas luzes interessantes passeavam. O som estava alto, alto demais para eu perceber que você não estava ali, alto demais para perceber que você era todas aquelas pessoas e que aquela música tinha o poder de segurar todas elas com uma mão só e tirar tudo e só o que eu queria delas, prazer, sorrisos e um pouco de insanidade. O DJ não sabia, mas tinha acabado de me dar uma passagem de ida para os rios que eu seguia, onde tudo era permitido mas nada era obrigatório. 


♫ Lykke Li - I Follow Rivers 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ela venceu

We were born sick You heard them say it My church offers no absolutions She tells me: Worship in the bedroom ♪ Saber como começou é um mistério. Pode ter sido naquela bronca desnecessária; no pedido de algum doce na rua; no olhar inocente para salgadinhos e guloseimas no supermercado, seguidos de um “nem pensar, mocinha”. Não tem como saber. A compulsão alimentar tem muitas formas de reivindicar seu espaço. Vem ardilosa, às vezes como um ato de “rebeldia”, às vezes sem motivo nenhum, só vem e preenche tudo, como um tsunami de magnitudes nunca vistas.  No caso dela não foi diferente. É quase cruel como crianças conseguem perceber suas privações e encarar isso como um ataque. Sorrateiro como uma cobra no mato, o sentimento de que algo não está certo é inevitável: por que nunca podia ter coisas gostosas na sua lancheira da escolar? Por que nunca podia comprar os lanches na cantina? Porque nunca podia tomar refrigerante aos finais de semana, como todo mundo? Ela não entendia.  Mesmo assim,

Vai dar tempo?

So, before you go Was there something I could've said To make it all stop hurting? It kills me how your mind can make you feel so worthless Será que a gente vai ter tempo para fazer tudo o que acha que não tem tempo pra fazer hoje? Será que amanhã, ou depois, ou qualquer outro dia que vai se chamar "amanhã" de novo, a gente consegue finalmente começar aquela dieta? Frequentar a academia, pegar o carro pra dirigir? Juntar a grana para aquela viagem? Se organizar e ir morar sozinho? Sozinho, só você e você, com essas pendências e todas as outras mais que a sua memória fez questão de esquecer agora, afinal, é muita informação para um só HD. Será? Sei lá.  Eu sei lá o que é que eu quero hoje, mas eu quero tudo isso. Tudo isso que eu nem sei o que é, mas eu sei que vai dar trabalho, então é melhor querer agora, do que decidir querer depois e de repente perceber que eu nem queria mesmo. Acho que isso de "eu nem queria mesmo", é quase uma estratégia nossa, para quando

Modéstia à parte II

Modéstia à parte II (minha pobre adaptação do seu maravilhoso texto) Por Isabelle Brown Você se deixou em mim. Cheia de medo de se perder, como quem não quer trilhar um caminho inseguro. Singular, como a flor de Drummond. Rompeu o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. “Da-me comparação exata e poética para lhes dizer (...)” o que significa ter que desafiar o espaço-tempo para conseguir desfrutar da sua rara presença. Tão pouco tempo... como captar suas ideias de maneira plena? Nunca vou saber. Tal como a Teoria da Relatividade Restrita ignora os óbvios efeitos da gravidade, você desconsiderou o pior de mim. Todos os níveis de respeito e carinho adentrando as janelas de casa que agora iluminam mais uma pele, mais uma vida. Com a nova moradora a rotina da casa ficou diferente. As portas que antes permaneciam trancadas, não deixaram de existir, mas hoje permanecem sempre abertas para que ficar seja uma escolha e a voltar, uma agradável surpresa. Todos sabem quem você é, mas descrevê-la