Modéstia à parte II
(minha pobre adaptação do seu maravilhoso texto)
Por Isabelle Brown
Você se deixou em mim. Cheia de medo de se perder, como quem não quer trilhar um caminho inseguro. Singular, como a flor de Drummond. Rompeu o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. “Da-me comparação exata e poética para lhes dizer (...)” o que significa ter que desafiar o espaço-tempo para conseguir desfrutar da sua rara presença. Tão pouco tempo... como captar suas ideias de maneira plena? Nunca vou saber.
Tal como a Teoria da Relatividade Restrita ignora os óbvios efeitos da gravidade, você desconsiderou o pior de mim. Todos os níveis de respeito e carinho adentrando as janelas de casa que agora iluminam mais uma pele, mais uma vida. Com a nova moradora a rotina da casa ficou diferente. As portas que antes permaneciam trancadas, não deixaram de existir, mas hoje permanecem sempre abertas para que ficar seja uma escolha e a voltar, uma agradável surpresa.
Todos sabem quem você é, mas descrevê-la é infactível, seria irracionalizar seu simples significado. Como um Iluminista em trevas medievais, elucida a mente e instiga a visão. Em meio aos intemperismos, a rotação da terra, o caos natural, os desmazelos humanos, você emerge, traz esperança aos injustiçados, questiona meus pensamentos, tranquiliza meu coração, inspira minhas notas, meu adormecer e tudo aquilo que só constatei possuir ao apreciar seus sorrisos e compreender suas lágrimas.
Retruca meus argumentos, bagunça minha playlist, invade minhas composições e me provoca, me deixa rubra. Rasga meus tratados e joga meus preceitos fora. Afoga minhas seguranças, minhas convicções. Abre meus olhos para uma realidade nossa ao perguntar; “Por que você é assim?”. Assim simples e complexa. Simples no agir e complexa sentindo. Você revoluciona a minha mente, a minha vida. Poderia idealizar um novo socialismo jamais pensado.
Sinto-me Zumbi, Luther King, Rosa Parks, Mandela, ah, comparem com quem quiserem. É difícil explicar o que não se entende, nem se pode tocar.
Ouvi o som da campanhia. Imaginando quem fosse, pus-me a descer as escadas depressa tentando controlar o sorriso que mal cabia em minha compleição. É você. Escuto a mesma canção, já vai sumindo meu chão, eu tento abrir o portão e... Nossas vidas se encontram e eu a convido a dançar. Não importa aonde vamos. Você se alojou em mim. Senti suas mãos em meu rosto e o inevitável calor na minha pele. Será que ainda estou respirando? Já não via mais nada e nem tinha o controle. Ah, minha menina.
Senti seu corpo e seu cheiro junto ao meu e suas mãos me envolvendo. Seu toque em meu cabelo sucumbiu minhas forças, ainda assim, a vontade de tê-la mais perto venceu e senti seu suspiro incrédulo quando a sufoquei no meu abraço. Seu riso bem perto denunciou a fuga dos medos e receios. E numa provocação lhe perguntei: “Por que você é assim?”. Sua resposta me fez feliz pela mera declaração, mas não me foi nenhuma surpresa. Seus olhos disseram antes e os meus, imediatamente após, responderam: “Que amor esse nosso, hein? Modéstia à parte”.
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